Dança do Vominê vira pesquisa de curso de mestrado de universidade do Pará
O ritmo Vominê, que simboliza a comemoração da vitória dos cristãos sobre os mouros, é dançado sempre na alvorada do dia 24 de julho.
O professor entrevistou os caixeiros, tocadores das caixas de marabaixo, que embalam o ritmo do Vominê.
Um dos pontos mais altos da secular Festa de São Tiago, a Dança do Vominê, vai virar tema de pesquisa do curso de pós-graduação em Música da Universidade Federal do Pará (UFPA). Destaque na programação da encenação da épica batalha, o ritmo Vominê, que simboliza a comemoração da vitória dos cristãos sobre os mouros, é dançado sempre na alvorada do dia 24 de julho.
Este ano, entre turistas e visitantes costumeiros da festividade, na histórica Vila de Mazagão Velho, estava o professor de etnomusicologia da UFPA, Ricardo Smith, que veio ao Amapá para desenvolver uma pesquisa para compor o curso de mestrado da universidade.
O estudo, segundo Smith, visa mostrar olhares distintos da festa dentro da tradição entre as diferentes gerações dos moradores de Mazagão, que são os atores da encenação da batalha. Para isto, o professor entrevistou os caixeiros, tocadores das caixas de marabaixo, que embalam o ritmo do Vominê.
Os depoimentos colhidos para a pesquisa indicam, conforme Smith, uma base para um estudo antropológico através da música como elemento que une as gerações mais antigas e contemporâneas em torno da tradição. “Por exemplo, os mais velhos sempre estão à frente das caixas de batuque, e eles têm uma visão diferente de como o ritmo é dançado pelos jovens, atualmente. Mas, no que eles são unânimes é na devoção à parte religiosa da festa, que ainda é muito respeitada, pois depois de mais de dois séculos, a tradição ainda se mantém sem modificações tão profundas”, explica o professor.
Ele disse que tomou conhecimento do ritmo Vominê depois de conhecer outra cultura genuinamente amapaense, o marabaixo. Neste domingo, 24, ele acompanhou a alvorada festiva, quando os caixeiros concentram-se em frente à Igreja de Nossa Senhora da Piedade para anunciar a encenação da batalha. É neste momento que homens encenam a comemoração da vitória dos cristãos em sobre os mouros.
Segundo Smith, a generalidade também é observada na dança. “Achei interessante a participação indireta das mulheres na dança do vominê. Antes, elas eram proibidas até de olhar a dança, assim como o baile das máscaras, outro capítulo dessa epopeia. Mas atualmente, elas fazem questão de ficar ao redor, na animação. Esse crescimento na vontade delas em participar cada vez mais, é um rico objeto de estudo antropológico”, avaliou. Ele revelou ainda que pretende levar as revelações de estruturas sociais muito bem definidas através do Vominê para sua tese de doutorado.
A festa
Este ano, a Festa de São Tiago completa
239 anos. É uma tradição trazida da África pelas famílias de colonos
portugueses, em decorrência dos conflitos político-religiosos entre
portugueses (cristãos) e muçulmanos (mouros).
Realizada desde 1777, na vila de Mazagão Velho, o evento consiste na encenação de um espetáculo de fé, que conta a história do guerreiro Tiago, soldado anônimo que lutou ao lado do povo de Cristo, ajudando a vencer as grandes batalhas contra os mouros.
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