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Pela primeira vez, ensino superior chega ao Iapen como oportunidade de ressocialização

Objetivo é garantir mais oportunidades para que, ao sair do sistema, o interno não volte para a criminalidade.

Por Marcelle Corrêa
25/08/2023 09h00

Os internos João e José começam os cursos de Tecnologia da Informação e de Engenharia Civil

Pela primeira vez, o ensino universitário chega ao Instituto de Administração Penitenciária (Iapen), como medida de ressocialização. A instituição iniciou aulas de nível superior, do sistema de Educação à Distância (EAD), para dois internos classificados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) voltado a pessoas privadas de liberdade, realizado em janeiro deste ano.

Levar o nível superior para o Iapen é um objetivo que busca garantir que, ao sair da instituição, o interno tenha mais oportunidades de estudo e de trabalho e, assim, não volte para a criminalidade. Outra meta é reduzir o analfabetismo dentro do sistema prisional.

“Essa é uma meta ousada. Zerar o analfabetismo dentro do nosso sistema penitenciário. Já estamos investindo na educação dentro do Iapen e isso terá um efeito emocional e de dignidade para quem receber essas oportunidades”, disse o governador, Clécio Luís.

Agarrando oportunidades

Um dos reeducandos está cursando Tecnologia da Informação e o outro, Engenharia Civil. Neste texto, vamos chamá-los pelo nomes fictícios de João e José.

João conta que está há um bom tempo dentro do Iapen e quando viu a oportunidade de poder voltar a estudar, se esforçou para conseguir a vaga. De acordo com ele, a principal motivação foi a família que está a sua espera.

“Ter a possibilidade de cursar um nível superior dentro do Iapen é uma possibilidade de mudar a história. Essa é uma oportunidade que eu pretendo agarrar com os dois braços, dando o meu máximo para melhorar o meu momento. A parte mais importante de tudo isso, a motivação para levar os estudos adiante, é a família. O abraço, o apoio, o afeto deles”, disse João.

Já José espera que ele e o colega sejam exemplos a serem seguidos por outros reeducandos. Ele conta que, pela primeira vez, se sentiu confiante em mudar de vida dentro do sistema de cárcere.

“Espero que cada vez mais outros internos tenham acesso a esses serviços e essas oportunidade. Espero que eles percebam, que não há só o lado do crime, mas tem o lado de dar a volta por cima e erguer a cabeça para continuar a viver com dignidade”, frisou José.

Os dois internos foram unânimes em dizer que estão felizes com a oportunidade.

“É importante ressaltar que o Iapen entra nessa gestão de oportunização. Ver que todo o sistema penitenciário está envolvido mostra que, a pessoa que está na situação de cárcere, não é só mais um número, mas um pessoa que pode ser reintegrada à sociedade da forma certa”, disse João.

José complementa esperançoso, já pensando em sair da prisão e se encaixar no mercado de trabalho.

“Essa oportunidade possibilita que possamos criar um caminho de retorno à sociedade com dignidade, pois vamos começar a projetar uma nova vida profissional através do nível superior. Eu agora tenho uma esperança maior, porque sei que vou seguir para outro nicho, o profissional”, frisou José.

Avanços na ressocialização

O Governo do Estado garantiu junto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) mais de R$ 25 milhões em investimentos para o sistema penitenciário.

Os recursos fazem parte do montante de R$ 132,5 milhões anunciados pelo governador, Clécio Luís, e pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, para a Segurança Pública estadual, no início de agosto, em frente à Fortaleza São José de Macapá.

O instituto foi beneficiado com vários kits que vão ser utilizados, principalmente, em programas de ressocialização dos apenados. Segundo o diretor do Iapen, Luiz Carlos Gomes, o destaque são os 17 equipamentos que compõem as fábricas de blocos e outros artefatos de concreto.

“Uma das metas do Governo do Estado é implantar políticas de incentivo à educação e ao trabalho dentro do sistema penitenciário, com a construção de novos espaços para ressocializar e ajudar na educação dos internos”, garantiu o diretor.

Novos projetos

Todo o trabalho é supervisionado por Anny Silva, coordenadora do Tratamento Penal do Iapen (Cotrap) que também se sente esperançosa com a expectativa de mudar a vida de muitas outras pessoas que estão cumprindo pena na instituição.

“O objetivo é mostrar novas perspectivas para que eles, de fato, enxerguem que há a possibilidade de mudar o que eles tiveram antes de estar aqui [Iapen], para uma nova vida fora daqui”, disse a coordenadora.

A coordenadora da Cotrap conta que muitos outros projetos educacionais estão em tratativas para serem implementados no instituto. Uma das expectativas é a parceria com a Universidade Federal do Amapá e a abertura do Projeto de Monitoria Educacional Integrada (Promei).

“Conversamos com a Unifap para entrar no EAD oferecendo outros cursos para os reeducandos. Vamos fazer uma pesquisa de campo com os internos para saber quais cursos eles gostariam de receber e estamos também com a previsão da abertura da sala de alfabetização”, disse Anny.

De acordo com a coordenadora, existem atualmente no Iapen cerca de 30 internos analfabetos e eles se encaixariam dentro do Promei, onde quem fará o trabalho de alfabetização deles serão os próprios reeducandos que já tem nível superior, alguns sendo professores.

“A Secretaria de Educação [Seed] disponibilizará professores que farão a organização do cronograma de aula desses internos e as pessoas privadas de liberdade que tem a formação farão esse trabalho.Umas das metas do Governo do Estado é a erradicação do analfabetismo dentro das cadeias e estamos empenhados em concretizar esse objetivo”, relatou a coordenadora.

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