“Ato de fumar é a dependência química mais poderosa que atinge a humanidade”, diz médica
Hábito está relacionado a mais de 50 doenças como câncer de pulmão e hipertensão arterial.
Dados do IBGE revelam que 11% dos amapaenses maiores de 18 anos são tabagistas
31 de Maio é o Dia Mundial Sem Tabaco. A data foi estabelecida em 1987 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com o intuito de alertar a população sobre doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo, que atinge seis milhões de pessoas por ano, destas, cerca de 600 mil são fumantes passivos, ou seja, não fumam, mas convivem com fumantes.
No Amapá, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 11% da população maior de 18 anos revela ser tabagista, sendo a prevalência duas vezes maior no sexo masculino, além disso, 25% dos adolescentes amapaenses já experimentaram cigarros pelo menos uma vez na vida.
Ennara Borges, pneumologista do Governo do Estado do Amapá que atua no Hospital de Clínicas Alberto Lima (Hcal), explica que a realidade do dia a dia mostra a prevalência de tabagista aparentemente maior, principalmente nos moradores de área rural, onde a grande maioria consome cachimbo, fumo de pacote e porronca – cigarro feito de fumo na palha.
Doenças relacionadas ao tabagismo
Borges explica que a fumaça inalada pelo charuto, cigarro ou cachimbo atravessa as vias respiratórias e vai para os pulmões, onde há pequenas estruturas em formas de sacos (os alvéolos), altamente irrigadas por pequenos vasos sanguíneos. É nessa região que ocorrem as trocas gasosas do oxigênio pelo gás carbônico.
No interior dos milhares de vasos sanguíneos dos pulmões, a nicotina – substância responsável direta pela dependência ao fumo – entra em contato com o sangue oxigenado, que é levado ao coração para ser bombeado a todo o organismo. “Assim, a nicotina é misturada ao sangue e levada para os outros órgãos, como o cérebro”, exemplifica a pneumologista.
Ela também afirma que existem mais de 50 doenças relacionadas ao tabagismo. O hábito de fumar afeta o sistema cardiovascular, pode causar hipertensão arterial e infarto agudo do miocárdio, além de problemas ligados à circulação, como aneurismas e tromboses. O tabagismo age ainda no sistema respiratório, causando enfisema pulmonar, bronquite crônica e câncer de pulmão. 90% dos casos dessa doença estão relacionados ao uso do cigarro, entre os 10% restantes, 1/3 é formado por fumantes passivos. O uso cigarro causa ainda alterações estéticas.
Abandonando o cigarro
Por todos esses motivos, o ideal é que fumantes abandonem o hábito, mas essa não é uma missão fácil. Borges explica que o ato de fumar é a dependência química mais poderosa que atinge a humanidade, isso ocorre porque o cigarro contém quase cinco mil substâncias tóxicas, entre elas a nicotina, que chega ao cérebro apenas nove segundos após uma tragada.
A droga atua em uma área do cérebro responsável pelo sistema de recompensa cerebral, o que estimula a liberação da dopamina, substância que regula diversas reações do corpo, diante de situações cotidianas, sejam as de alegria ou tristeza. “Por isso, o fumante sente prazer no hábito. Ele fuma para aliviar a ansiedade e combater o stress. Em menos de uma hora depois de fumar, o corpo sente falta da substância”, afirma a médica.
Borges explica há métodos com evidências científicas que ajudam o fumante a deixar de fumar. Entre eles, pode-se destacar a parada abrupta, adiamento do primeiro dia, redução gradual do número de cigarros fumados e abordagens terapêuticas. A pneumologista destaca, no entanto, que o primeiro passo para abandonar o vício é ter foco e força de vontade. “É recomendado o auxílio do médico pneumologista, para de forma adequada e segura, seja conduzido esse tratamento”, enfatiza.
O advogado Vladimir Almeida, 47 anos, sabe o quanto é difícil o processo de abandonar o vício. Ele conheceu o cigarro aos 16 anos e passou a fumar frequentemente por modismo e influência dos amigos. Alguns anos depois, consciente de que o hábito era prejudicial, Almeida decidiu parar, mas sofreu um trauma em sua vida pessoal e voltou ao vício.
Aos 31 anos, resolveu tentar novamente, mas dessa vez aos poucos. “Decidi em um verão muito quente, no Centro do Rio de Janeiro, em 2000. Estava de terno, andando na rua, acendi um cigarro e me senti colocando fumaça para dentro, me incomodei acima do razoável”, relata o advogado.
Almeida levou cerca de um ano para abandonar o vício. Primeiro diminuiu o número de cigarros, quando chegou à meia carteira por dia, resolveu trocar de marca e passou a utilizar uma com menor quantidade de nicotina. “Repeti o processo três vezes. Fazia isso a cada troca de estação, do verão para o outono, do outono para o inverno e do inverno para a primavera. Até que no verão de 2001, parei de fumar definitivamente”, comemorou.
Atualmente, o advogado, que é casado e pai de duas meninas, não sente a menor vontade de voltar a fumar. “Desde que parei de fumar me sinto sensacionalmente melhor. Tenho plena consciência de que esse foi um dos maiores equívocos que cometi”, revelou.
É importante destacar que, ao abandonar o cigarro, o ex-fumante sente alterações imediatamente. Após 20 minutos, a pressão e a pulsação já normalizam; em 2 horas, já não há mais nicotina circulando no sangue; entre 12 e 24 horas, os pulmões funcionam melhor. Outras mudanças surgem a longo prazo. Após um ano, o risco de morte por infarto cai pela metade; entre cinco e dez anos, o risco de infarto será igual ao de uma pessoa que nunca fumou.
Combate ao tabagismo
Atualmente, o Estado do Amapá desenvolve dois projetos de combate ao tabagismo. Um deles é o Programa Saber Saúde (PSE), uma iniciativa cujo objetivo é fortalecer as ações educativas voltadas à prevenção e à redução do uso do álcool e do tabaco nas escolas. O PSE é fruto de uma parceria da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e Secretaria de Estado da Educação (Seed) e é aplicado nos municípios de Tartarugalzinho, Santana, Laranjal do Jari e Macapá, envolvendo mais de 40 profissionais da educação e da atenção básica desses municípios, preparados para garantir atenção à saúde e educação integral para os estudantes da rede básica de ensino.
Outra iniciativa é Programa Estadual de Controle do Tabagismo, cujo objetivo é agregar práticas já existentes a outras políticas públicas de saúde que viabilizem, além da infraestrutura e atendimento, o financiamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de medicamentos utilizados no tratamento do tabagismo.
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