Policiais femininas desbravam caminhos dentro da corporação e alcançam 25% do efetivo
Cerca de 800 mulheres ocupam diversas patentes dentro da corporação amapaense. E na atual gestão do governo, elas ocupam metade dos cargos comissionados.
Cel. PM Palmira Bittencourt uma das primeiras mulheres a ingressar nas fileiras da PM/AP relembra os desafios superados: 'a luta continua'
A mulher vem conquistando cada vez mais espaço na sociedade contemporânea, se tornando protagonista de sua própria história e cooperando no legado das gerações. Na atual gestão do Governo do Amapá, elas ocupam a metade dos cargos comissionados, sendo que de 4.697 cargos, 2.346 são ocupados por mulheres. Inclusive à frente de importantes órgãos de governo como: Administração (Sead), Educação (Seed), Inclusão e Mobilização Social (Sims), Trabalho e Empreendedorismo (Sete), Políticas para as Mulheres (SEPM), Povos Indígenas (Sepi), Fundação da Criança e do Adolescente (Fcria), sem contar outras mulheres que não estão no governo, mas que contribuíram com sua força de trabalho como gestoras destes e outros órgãos do Estado.
A luta feminina pelos espaços sociais foi, de fato, árdua e repressora. Que o diga a coronel PM Palmira Bittencourt uma das primeiras mulheres a ingressar nas fileiras da Polícia Militar do Amapá (PM/AP), em 1989. Com trinta anos na carreira militar ela relembra os desafios que as pioneiras tiveram que superar para usufruir das conquistas atuais.
Como em todo o ambiente militar, as normas tinham que ser seguidas à risca. E a primeira turma de policiais femininas da corporação amapaense não teve qualquer regalia. “Começando pelo corte de cabelo que era padronizado para homens e mulheres, com máquina 1 e 2. E a cada quinzena tínhamos que comprovar na carteirinha os contínuos cortes das madeixas. Ao contrário, era prisão”, lembra a coronel.
A companhia de policiamento feminino só podia atuar no trânsito, com serviços educativos e repressivos, em dois turnos, e sem folga nos fins de semana. O modelo da farda era outro fator que incomodava as mulheres policiais. “Era uma espécie de calça-saia feita de tecido difícil de passar e usar. E os sapatos que usávamos na operacionalidade viviam saindo dos pés no momento em que tínhamos que correr durante uma ocorrência, por exemplo”, recorda a militar.
Palmira revela que além dos ‘ossos do ofício’, para entrada e permanência na corporação as exigências eram bem maiores. Elas não podiam ser casadas ou serem mães, fatores considerados como fortes justificativas para faltas no trabalho e que não eram toleradas. “Hoje isso seria considerado um ato totalmente discriminatório”, enfatiza.
Mas ela considera que os obstáculos do processo contribuíram para o empoderamento das mulheres na instituição. A turma de policiais femininas com muita determinação desbravou caminhos tortuosos e lutou por espaços que, hoje, são direitos como, o alinhamento de vencimentos que garante o mesmo salário para homens e mulheres que ocupam o mesmo posto.
“Em 1996 conseguimos modificar a lei que restringia o ingresso da mulher na carreira da PM/AP. Então, conquistamos a unificação dos quadros e o número de vagas para o público feminino foi ampliado. Pois, até aquele momento, era de apenas 10% do efetivo”, conta a coronel Palmira Bittencourt.
Ela explica que no quadro de distribuição só existia uma companhia feminina e as mulheres policiais só podiam alcançar o posto de capitã. “Essa foi uma evolução histórica de valorização das mulheres no serviço policial militar do Brasil”, exalta a coronel.
A militar chegou a produzir um trabalho de mestrado contando essas e outras experiências sobre o ingresso das policiais femininas na corporação amapaense. Ela diz que é o único diagnóstico produzido no Brasil sobre as profissionais da segurança pública daquela época.
“A pesquisa mostra que mais de 80% tinham formação, cerca de 50% eram solteiras, mais de 60% sustentavam a casa. Mulheres tementes à Deus e que visavam um futuro promissor típico de guerreiras dispostas a fazer história. Esse material está sob domínio público e já foi utilizado em muitas outras teses”, orgulha-se Palmira Bittencourt.
Novos desafios
Em junho deste ano a experiente militar, casada, mãe de dois filhos, vai para a reserva da PM, segundo ela, com o sentimento de dever cumprido pela base sólida que foi construída e que beneficia pioneiras e futuras profissionais.
Defensoria militar, renovação da interiorização que prevê 50% da remuneração, instituição do fundo PM estão entre muitos outros projetos que vão requerer das novas integrantes das fileiras da Polícia Militar, a continuação da luta das policiais femininas. “Esperamos que as nossas sucessoras deem continuidade a esse legado, lutando por essas benfeitorias que não serão só para as elas, mas para toda a corporação”, almeja a coronel Palmira.
Com a realização do último concurso público para a área, o efetivo feminino aumentou para uma média de 800 policiais, o que representa cerca de 25% da corporação amapaense.
A recém-formada soldado PM, Caroline Botelho, 24 anos, é a terceira das três primeiras colocadas do Curso de Formação, todas mulheres. Filha de militar, Caroline conta que começou a sonhar com a carreira quando ainda tinha 8 anos de idade. “Pelo exemplo, meu pai, que é sargento, sempre me mostrou o quanto é nobre essa profissão”, comenta.
Lotada no 2º BPM, na zona norte de Macapá, Caroline se sente realizada e fala da importância dos exemplos de mulheres fortes e inspiradoras em todas as esferas da sociedade, inclusive nas forças de segurança. “Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive servindo e protegendo a população amapaense”, exalta.
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