Polícia Civil utiliza software via satélite para monitorar desmatamento no Amapá
Monitoramento reforça preservação das áreas de floresta em solo amapaense; mais de 50 ações de combate ao crime já foram registradas em seis meses.
Incêndios criminosos são identificados em até quatro horas e, desmatamento, de 3 a 4 dias após o início
A Delegacia do Meio Ambiente (Dema) da Polícia Civil do Amapá passou a utilizar tecnologias de mapas via satélite exibidos por um aplicativo de smartphone chamado Global Forest Watch (GFW), para facilitar o patrulhamento das regiões densas da Floresta Amazônica. Com a utilização da ferramenta, a Polícia Civil já realizou desde junho deste ano mais de 50 ações de combate ao desmatamento no Estado. Segundo o World Resources Institute (WRI), desenvolvedor do aplicativo, a polícia amapaense é a instituição que mais utiliza a ferramenta no combate a crimes ambientais.
A consideração do WRI corrobora para o reconhecimento que o Amapá já tem de ser o Estado mais preservado do Brasil, com 93% de suas florestas intactas. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente (Sema) do Governo do Amapá, esta preservação se deve não somente ao fato de as principais áreas de florestas serem protegidas por órgãos do governo federal, como também à cultura da maioria da população, principalmente, agricultores de não desmatar as áreas preservadas. Isto considerando as reservas extrativistas em que os trabalhadores artesanais se utilizam da natureza para a própria subsistência e geração de empregos para as próprias comunidades onde desempenham suas atividades, diferente de empresas mineradoras que demandam fiscalizações mais rigorosas.
Fiscalização
Com uma equipe formada por 12 membros, a delegacia patrulha uma área florestal de 142.815 quilômetros quadrados no Amapá, equivalente ao tamanho do Nepal, país asiático localizado entre a China e a Índia.
De acordo com o titular da Dema, delegado Leonardo Brito, sem a utilização da ferramenta, a equipe só conseguia investigar crimes de desmatamento em volta da margem da floresta ou reclamações dos membros da comunidade relacionados à desacordos sobre a terra.
“Era bastante difícil monitorar o desmatamento ilegal escondido no coração da floresta. Antes [de usar a ferramenta] nossas ações eram muito limitadas, a maioria das ocorrências eram feitas através de denúncias de conflitos de terras ou relacionadas à poluição. Não tínhamos ferramentas suficientes para combater crimes contra a floresta”, relatou o delegado.
Em pesquisas realizadas na internet, Brito encontrou várias opções de imagens via satélite disponíveis, mas a maioria dos serviços atualizavam as imagens com pouca frequência. Quando chegavam ao local de possíveis crimes, os policiais não encontravam mais ninguém, os madeireiros já haviam migrado para outro local. “Todas as opções que encontrávamos tinham mapas que demoravam até três meses para serem atualizados, além de apresentarem imagens de baixa resolução”, expôs.
Durante as buscas por uma ferramenta adequada às necessidades do trabalho de monitoramento, o delegado encontrou o aplicativo Global Forest Watch, que possui um funcionamento similar ao Google Maps e Earth, trazendo imagens via satélite de áreas selecionadas pelos usuários. Seu foco em florestas densas, porém, o torna diferente de outras opções, pois é desenhado especificamente para o uso off-line, o que ajuda na localização precisa das áreas identificadas como alvo de crimes ambientais no meio da floresta.
A ferramenta combina recursos do sistema de monitoramento do desmatamento na Amazônia Legal, mantido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com a atualização de imagens via satélite pela Nasa, a agência espacial dos Estado Unidos da América.
A partir de então, o departamento de polícia passou a utilizar o aplicativo para monitorar e auxiliar todas as ações realizadas em áreas mais densas da Floresta Amazônica, possibilitando a identificação de cerca de 5 mil focos de desmatamento em regiões florestais do Estado. Foi aí que a WRI identificou que a Delegacia de Meio Ambiente da Polícia Civil do Amapá é a instituição mais efetiva no combate a crimes ambientais, no mundo, com o uso do aplicativo.
“Quando começamos a usar [o Global Forest Watch], também passamos a transmitir nosso feedback à desenvolvedora com sugestões de melhorias para a ferramenta. E eles foram aperfeiçoando as funcionalidades a partir das nossas sugestões, que nos deixou bastante motivados a continuar utilizando a ferramenta”, destacou Brito.
Flagrante
Brito relata que, com a ajuda do aplicativo, é possível identificar incêndios criminosos em áreas florestais em até quatro horas e, áreas de desmatamento em até três dias após o início. Isto possibilita que a Polícia Civil realize o flagrante da ação. A equipe policial combina o uso do aplicativo com a utilização de um drone para vigilância e identificação ao vivo de áreas que estão sendo ilegalmente exploradas.
“Quando a pessoa derruba uma única árvore tirando a vegetação ao seu redor, nós já conseguimos identificar o crime através das imagens de satélite; acionamos as equipes de campo que monitoram a área com o drone e registramos o flagrante dos criminosos”, explicou o delegado.
Em junho deste ano, por exemplo, a delegacia prendeu na comunidade do Ariri, localizada da área rural de Macapá, oito pessoas, entre garimpeiros, empresários e gerentes de empresas de atividades ilegais. “Além de prender os infratores da legislação ambiental, apreendemos motosserras, caminhões e todos os materiais que eram utilizados no ato”, contou Leonardo Brito.
Preservação
O delegado destaca a importância do combate aos crimes ambientais com a atenção voltada para a preservação das matas. Antes, a maioria do trabalho de combate ao desmatamento se concentrava na terra ou nos direitos da propriedade. Mas, ele aponta a necessidade de inverter essa forma de atuação. “Hoje, as pessoas se preocupam muito com os crimes relacionados a bens materiais e esquecem que esses objetos são substituíveis, enquanto uma árvore leva até 30 anos para crescer”, lamentou.
Brito também espera difundir a utilização da ferramenta por outras polícias e departamentos ligados à preservação ambiental. Como resultado da atuação da Delegacia de Meio Ambiente da Polícia Civil do Amapá, Leonardo ganhou um curso que acontecerá no próximo ano, promovido pelo World Resources Institute, para aprender mais sobre o funcionamento do aplicativo Global Forest Watch.
“Quero ajudar nesse trabalho de difusão não só da ferramenta, mas também da importância de combatermos essas ações que destroem nossas florestas. Queremos evitar que aconteça conosco, o que já aconteceu em outros países e, até mesmo, regiões do Brasil onde não existe mais a presença do verde”, alertou o titular da Dema, que também apontou a necessidade de investimentos na delegacia com a compra de mais um drone, viaturas e aumento no efetivo.
Com informações da Global Forest Watch
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